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O Lobo e a Cobra - João Fernandes

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Mensagem  João Pedro Fernandes Sil Ter Dez 07, 2010 5:24 pm


Certa vez eu li uma teoria espiritualista. Ela dizia que o corpo espiritual de uma pessoa pode se manifestar na forma de um animal. Em mim vive um lobo.
Com seus olhos vermelhos e esbugalhados, seu pêlo escuro e acinzentado, meu lobo me observa o tempo todo. O animal é raivoso, ele gosta de sangue e por esse motivo, ele exige a todo instante o sabor de meu sangue quente e amargo.
Riscando a terra negra com suas unhas duras e prateadas, ao meu lobo eu conto todos os meus segredos. Só que eu não sei todos os mistérios de meu lobo. E por isso, eu não posso lhe dar o amparo necessário. E é por isso que ele sofre, e eu sofro. É por isso que ele uiva e eu urro.
É muita raiva, é muita dor. Eu não compreendo de onde que vem tanta tristeza. Nada se abstrai daqueles olhos confusos e sanguinários. Meu lobo rosna e me ameaça, eu não consigo o ajudar. Meu lobo então se vinga, estraçalhando-me a carne com suas presas pontiagudas.
Uma noite, no entanto, algo diferente aconteceu. Eu estava andando por uma rua de meu bairro. Uma garota estava do meu lado. A garota falava sobre cobras. Lobos não gostam de cobras.
Serpentes podem se enroscar por nossas patas e quebrá-las por contorção. Serpentes podem entrelaçar-se por nossas gargantas e asfixiar-nos caso haja uma mísera oportunidade. Realmente eu não gosto de serpentes.
Contudo, alguma coisa diferente estava acontecendo comigo. Meu lobo me olhava desconfiado enquanto riscava o asfalto. Ele possuía movimentos desordenados. Parecia querer alertar-me sobre alguma coisa. Mas já era tarde demais, eu havia me esquecido de algo perigoso, o veneno das cobras.
A garota começou a dizer que se achava feia por ter a pele pálida demais, eu lhe disse que não, que eu a achava extremamente linda. Afinal de contas, todos os lobos amam a lua, e ela era a minha lua.
Que lobo não se maravilharia com a suavidade da noite transcrita em uma garota? Ela era a espontaneidade das brisas frias, da ventania da madrugada. Foi então que algo inesperado aconteceu, uma enorme serpente da cor da neve materializou-se dependurada na cintura da garota.
Meu lobo rosnou agressivamente. Eu disse para ele ficar calmo. A serpente fazia movimentos circulares pelo corpo da garota. Era menina, serpente, menina, serpente, até que depois de certo tempo, os dois corpos voltaram a se fundir em um único só.
Era a essência da garota que há pouco se manifestara. Eu lobo e ela uma serpente. Seria uma combinação ideal? Não sei ao certo, creio que nem ela entendia o que estava acontecendo. Ela me olhava com um olhar vago, desinteressado, com aqueles olhinhos um pouco inclinados, um olhar típico de serpentes.
Realmente, não são todas as pessoas que conseguem ver as coisas da essência. Só queria que ela entendesse o tanto que gosto dela. Que os lobos são seres solitários, calados e entristecidos, mas que por ela, por aquele sentimento fumegante eu seria capaz de mudar toda a minha vida.
Que por ela, eu até seria capaz de começar a gostar de cobras. Seria capaz de
abandonar minha alcatéia. Com aquela garota eu poderia iniciar uma grande jornada de amor, passear por todo universo, pular de estrela em estrela até explorar toda a galáxia.
Mas não, isso não poderia acontecer. Serpentes não podem se misturar com os lobos pelas próprias leis da natureza. Aquela garota jamais poderia entender o significado do meu sentimento porque serpentes, serpentes não tem sangue.
Serpentes se conformam como amores poucos. Serpentes nunca conseguiriam entender o verdadeiro calor que brota do coração. Elas se chocalham, abanam os rabos, mas são seres frios desde o princípio de todos os dias. Muito antes de Adão e Eva, muito antes do paraíso, serpentes nascem mortas desde o começo de nossos tempos.
Não tardou para que eu fosse embora, na hora da despedida nem sequer dei um mísero beijo na garota. Podem me perguntar por que eu não fiz isso. Por quê? Por que razão eu não me aproveitei daquela situação? Porque eu sou um lobo, possuo instinto assassino. Caso a beijasse, sentiria o sabor da sua face e não se acalmaria nunca mais o meu espírito.
Porque naquela noite eu não consegui dormir um minuto sequer. Remontando cada instante em que caminhei com aquela garota. Meu lobo estava do lado de minha cama acariciando-me a face com o focinho. Agora sim eu entendia o problema de meu lobo. Agora sim eu poderia lhe dar a cura.
Nas horas mortas da noite eu me levantei. Fiz um café correndo. Engoli todo o líquido quente sem nenhum açúcar. Nas horas mortas da noite, é o melhor momento para se conversar com os espíritos da dor.
Saí de casa correndo. As luzes amareladas dos postes me observavam aflitas. O vento gelado da madrugada me enrijecia a face. Eu corria loucamente e meu lobo me acompanhava com passos longos. Nas horas mortas da noite eu sentia meu sangue fervilhando: 7 praças, 7 encruzilhadas, 7 esquinas e 7 igrejas.
Nas horas mortas da noite meus músculos doíam, mas isso não era razão para me impedir de correr ainda mais. Solitário, ausente, sempre sozinho, sempre sozinho. Nas horas mortas da noite é a melhor circunstância para se acabar com todo o amor.
Silêncio. Quando percebi, eu estava na porta da casa da garota. O suor escorria-me da face. Eu arfava muito. Meu coração explodia, as fibras fervilhavam e meu sangue, meu sangue circulava como lava incandescente. Seria a minha despedida? Eu deveria chamar a garota? Era angústia que me pesava as pálpebras?
Não, eu certamente não deveria fazer nada disso. Meu lobo me olhou com aqueles seus olhos vermelhos e incendiários me alertando de que eu também era um lobo.Que minha alcatéia deveria ser a minha vida. Que toda solidão é preço do poder e, para continuar sendo líder de todos os lobos, o veneno da serpente deveria ser eliminado.
Meu lobo cravou então as suas presas no meu coração. O sangue jorrava e pululava que nem correnteza. A dor me queimava vivo, mas era necessário que as poças de escarlate sangue lupino se espalhassem pela calçada. Era necessário que eu sentisse a verdadeira união do meu corpo com meu espírito.
E assim meus pêlos começaram a crescer. E assim meus dentes afiavam-se e expandiam-se em comprimento. Meus músculos retesavam-se e contraiam-se com uma velocidade absurda e eu fui tomando altura, e eu fui tomando a forma de um único corpo. E então eu uivei pela primeira vez. Um uivo longo e seco.
Da janela do sobrado da garota, pude observar por alguns instantes que uma serpente translúcida como diamante me observava. Poderia eu agora escalar aquele portão, arrebentar o vidro da janela e sentir o perfume do sono, de pele feminina e flores do outono? Não eu não deveria.
Não era meu direito sentir o sabor dos lábios daquela garota. E por mais que eu ainda a deseje, por mais que ela ainda viva nos meus sonhos, a justiça dos homens não é a justiça dos lobos. A minha única solução, o meu único destino seria ir embora para todo o sempre e absorver toda a má sorte, todo o infortúnio que ecoa pelo mundo.
Porque a partir daquele mesmo instante inicial, eu já sentia que meu futuro fora selado pela má sorte. Vagar pelos espaços e sentir pelo sangue tudo o que é do mais obscuro. Eu já não era mais homem, não era mais bicho, nem era mais lobo. Eu era ser desconjurado criado para objetivos sombrios dos maus espíritos.
Foi dessa maneira que eu comecei a correr e logo avistei minha alcatéia. Tantos lobos, minha enorme família. Uivos de saudação enchiam o espaço. Eu assumi a posição dianteira . E assim saímos migrando rumo ao desconhecido, ao infinito, ao inexplorado dos macrocosmos do que não tem mais fim.
Eu nunca mais encontrei aquela serpente. Eu odeio todas a cobras.

João Pedro Fernandes Sil
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